Crítica:Cowboy Bebop Temporada 1

22 de novembro de 2021 0 Por Mendes Jr

Cowboy Bebop traz fidelidade ao material original, mas pode melhorar

Um dos maiores dilemas de Hollywood são as inúmeras tentativas de adaptar animes e mangás de sucesso no oriente

Com rentabilidade na casa dos bilhões de dólares, o mercado de entretenimento tenta avidamente abraçar uma fatia deste mercado.

Só para se ter uma ideia foram gastos milhões de dólares somente para a pré produção de obras como Akira, Gundam e Macross, que passaram por muitos estúdios, produtoras e nada saiu do chão.
Essa diferente visão de mundo conflitante entre oriente e ocidente se perde muitas vezes na tradução das obras e reflete em desastres de críticas ou públicos.

Cowboy Bebop por si já é um projeto dificílimo de se tornar um produto para um mercado globalizado,e vem por muitos anos circulando por diversas mãos tentando se encaixar em alguma midia e a última tentativa com Keanu Reeves como Spike naufragou.



O Netflix é uma das plataformas de streaming que mais vislumbrou o potencial lucrativo das produções japonesas e investe pesado, não só nas animações, mas em qualquer formato em que produções nipônicas possam prosperam.

No meio do caminho é que se encaixa Cowboy Bebop, uma obra peculiar e muitas vezes problemática de ser adaptada pelo seu apelo cult entre os fãs do gênero e variações de tons que pode fazer tudo desandar rapidamente.

Criada por Shinichiro Watanabe, Cowboy Bebop é uma das animações  mais influentes da virada do século e constitui-se de 26 episódios narrando a história de Jet, um ex-policial que foi emboscadoe teve sua carreira destruída, Spike Spiegel, um ex- pistoleiro da máfia e Faye Valentine, uma garota que tem poucas lembranças de seu passado e viciada em jogo. Além deles, Ein, um cão inteligente e Radical Ed, hacker que ajuda a equipe de caçadores de recompensas integram a tripulação da nave Bebop atrás de casos mais variados, em alguns casos, surreias e existencias da galáxia.

Com influências noir e também de filmes policiais e de artes marciais dos anos 70, uma abertura icônica e trilha diferenciada calcada no blues, jazz e low fi de Yoko Kano, tudo deveria ser feito com muita cautela para que fãs não se rebelassem contra o projeto antes mesmo de sua concepção.

O produtor e diretor Andre Nemec resolveu apostar todas as suas fichas na fidelidade máxima, desde caracterização, atuações exageradas e ambientação para agradar a base de fãs e ainda tentar agradar quem não conhece nada do material fonte. Aí que mora o perigo!

Todos os esforços como trazer Yoko Kano na trilha, abertura, chamadas e encerramento idênticas, e mudou o mínimo possível das personalidades dos protagonistas.

Logo no primeiro episódio, que apesar de título diferente é uma adaptação direta de  Astroid Blues, nota-se que praticamente tudo foi filmado quadro a quadro em relação à versão de celuloide.
Mas nem mesmo assim, com todo este esmero, uma das mais divisivas críticas entre fãs e público seria iniciada.

Em termos de atuações de John Cho(Spike), Daniela Piñeda( Faye) e Mustafa Shakir( Jet Black), são louváveis e pegam todo o espírito de cada personagem, inclusive até mais teatrais e expressivas necessárias para emular as produções do sol nascente. Isso sempre gerou incômodo para o público do ocidente que muitas vezes não consome nem mesmo produtos que são legendados, principalmente nos EUA.

Assim como diretores como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez,( que fez o mesmo em Battle Angel Alita com até os olhos grandes do anime e mangás), a produção abusou dos visuais e computação gráfica emulando o visual carregado e poluído espacial e das colônias da trama que se passam no fim do século XXI.

Flertando hora com o realismo, hora com o cartunesco, tudo funciona muito bem e diverte até a hora da opção por cenários externos reais como subúrbios, ilhas e o amadorismo começa a saltar aos olhos lembrando séries como Power Rangers e quebrando o ritmo. Não é constante, mas distoa bastante.

Pequenas diferenças entre as contrapartes live-actions foram adicionadas as histórias dos personagens, que no anime demoram para ser desvendadas mas logo nos primeiros episódios são apresentadas, assim como a introdução de Fay Valentine, que entra somente no terceiro episódio para a equipe.



Personagens como Julia e Vicious ganham mais profundidade e tempo de tela, uma vez que desenhos só possuem 22 minutos e uma série 45 e precisam de mais conteúdo e isso alterou um pouco o contexto e motivações principais, mas certas alterações são necessárias para funcionar em live-action.

No roteiro algumas alterações mínimas para a releitura de episódios originais, mesmo que afetassem ao politicamente correto dos dias atuais. O caso do episódio de Ted Bear é o mais conhecido já que a versão animada foi censurada quando houve o ataque de onze de setembro. Aqui foi incorporada como trama paralela de outra história, sendo que ela era um episódio quase que único. Isso quebra a cadência da história.

Apesar dos erros e pendências, o produto final é uma série extremamente fiel, mas não agrada um público em geral e isso acabou dividindo críticos e público em 50%.
Grandes são as chances em um futuro próximo de Cowboy Bebop ser revisitado pela crítica como um projeto inovador e ousado, quem sabe também adquirir um status cult, ou se sobreviver para uma segunda temporada voltar aos trilhos e tentar se tornar um novo fenômeno, o tempo irá dizer.

O destino da tripulação da Bebop está nas mãos do Netflix.


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Formado em design, amante de rock and heavy music, ávido consumidor de quadrinhos e cinéfilo.